Comemorar apenas por comemorar, além de, muitas vezes, ocupar o tempo de aulas realmente importantes não acrescenta nada na formação das crianças. Não adianta celebrar uma data na escola que não represente nada para a realidade do estudante. "É preciso explicar como a festa surgiu e contextualizá-la para que os alunos criem uma identificação. Só assim a comemoração fará sentido", diz a professora de inglês do Colégio Augusto Laranja, Cristina Malville Alonso, que trabalha o processo durante todo o mês de Outubro com seus alunos de 4 a 6 anos. Com a ajuda de fotos, vídeos e outros materiais didáticos, ela resgata a história original da data e de seus personagens. As crianças descobrem que a origem do Halloween remete às crenças celtas. Para quem não sabe, este povo da Irlanda acreditava que, no último do verão no hemisfério norte, os espíritos saíam do cemitério para tomar conta dos corpos dos vivos. Aterrorizante, a comemoração pagã, foi condenada na Europa, passando a ser conhecida como Dia das Bruxas. Graças à imigração dos irlandeses para a América, o Halloween se tornou uma data especial nos Estados Unidos.
Halloween ou Dia do Saci
Limitar a comemoração à disciplina de inglês pode ser uma boa alternativa, bem como introduzir, de maneira sutil, a questão da influência de outras culturas graças à imigração e à globalização. Vale também apontar às crianças as diferenças culturais entre os vários países e até, quem sabe, discutir o choque cultural.
Voltar às atenções no mês de outubro para o Dia das Bruxas é realmente um problema. É preciso ter cuidado e lembrar às crianças que, originalmente, esta data não faz parte da nossa história e tradição. Pensando nisso, o Governo do Estado de São Paulo decretou, em 2005, o Dia do Saci, o mesmo dia 31 de outubro. Coincidência? Sem dúvida não, a iniciativa foi uma forma de valorizar a cultura brasileira e tentar coibir a americanização - já que, no imaginário do Brasil, o Saci é um símbolo.
Integrar o inglês com as demais disciplinas, proporcionando discussões que vão além da comemoração do Halloween é uma boa maneira de não enaltecer a data de forma prejudicial. É interessante estudar inicialmente a própria cultura, para depois conhecer as demais. Realizar um projeto sobre o folclore brasileiro aproxima as crianças da cultura brasileira e ajuda a introduzir a questão da americanização. Foi o que fez a professora Cristina: "Trabalhamos muito com interdisciplinaridade e grandes projetos, o mês de agosto é dedicado ao folclore. Com a ajuda de livros sobre lendas colocamos os alunos frente a frente com uma coisa extremamente brasileira e assim os preparamos para conhecer novas culturas", diz.
E as escolas bilíngues, como devem se posicionar?
Como o próprio nome já diz, a escola faz os alunos aprenderem simultaneamente duas línguas, no limite, duas culturas. Priorizando na maioria das vezes o português e o inglês, durante todo o processo de aprendizado é importante que nenhuma das duas seja esquecida, em momento algum. Assim, vale comemorar tanto tradições brasileiras, como as norte-americanas, lembrando sempre de contextualizar e proporcionar novos aprendizados aos alunos. "O contato com outras culturas é importante para a formação de todas as crianças, mas, principalmente, para as que vivem em escolas bilíngues", afirma Adília Torres Cristófaro, coordenadora do Augusto Laranja, unidade Campo Belo, que em 2009 adotou o método das duas línguas no método de ensino.
Para a diretora da unidade Tatuapé do Colégio Santa Amália, Teca Antunes, a comemoração tem sim sua importância, exatamente pelo fato da escola ser bilíngue. "Termos, por princípio, trabalhar com as crianças aspectos culturais do país falante da língua inglesa (e não apenas o idioma). Dentro disso, o Halloween é uma data importante na escola, pois as crianças canadenses têm o costume de brincar nesse dia".
No dia 31, os alunos da Educação Infantil podem vir fantasiadas, já os do Fundamental 1 podem trazer adereços para que todos, no momento de intervalo, brinquem de "trick or treat" ("doces ou travessuras"), trocando doces com os colegas. Apesar de cultuar uma tradição norte-americana, Teca Antunes acredita que as comemorações não são prejudiciais ao aprendizado das crianças. "Hoje, com a globalização, as crianças brasileiras também têm acesso a essas comemorações e isso lhes permite construir conhecimentos a respeito do mundo e da forma como outras crianças, que vivem em outras partes, brincam e divertem-se", diz.
Mesmo assim, a cultura nacional não é descartada, Teca conta que o Saci não deixa de ser apresentado às crianças. "Ele também faz parte da comemoração, juntamente com os símbolos típicos do Halloween. A parte da Cultura Brasileira é garantida, em nossa proposta pedagógica, por meio de aulas específicas que tratam da cultura da infância brasileira: tradições, músicas, cantigas de roda, brincadeiras, poesias, histórias etc."
Mesmo assim, a cultura nacional não é descartada, Teca conta que o Saci não deixa de ser apresentado às crianças. "Ele também faz parte da comemoração, juntamente com os símbolos típicos do Halloween. A parte da Cultura Brasileira é garantida, em nossa proposta pedagógica, por meio de aulas específicas que tratam da cultura da infância brasileira: tradições, músicas, cantigas de roda, brincadeiras, poesias, histórias etc."